segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Suor e só!

E você me tocou com suas mãos
meu coração disparado
rumo ao seu
que distante foi ficando
calado e só

E você me olhou com tesão
derretendo minha amargura
máscara ao chão
fui sua em pêlo
tanto zêlo...

Eu te quis essa noite
amanhã pode não ser
desculpe se não fiz assim parecer

Eu te dei meu suor e só
pois sei que vai embora
e não quero chorar, vá!...mas volta.

Por Annali Guedes Mendes.

O simples me sorri confuso

O simples me sorri confuso
eu fujo
e complico tudo
como num susto
tudo dispara, grita
e a vida feito água
turva fica e pára

E chove agora
dentro do ser que ri
lá fora
dorme consigo um tempo
clownesco que só
de alegrias vive
é de dar dó
em sol maior

Soa um som secreto
dizendo que está certo
decerto que sim
espeto o dedo, mas não
não adormeço
encaro então o lobo
que me devora e fim

Se a literatura é vã
vamos embora daqui
quero fugir, ficar, ouvir
se pudesse eu mesmo me parir
o faria
só pra eu mesmo ser
o filho da puta de mim

Lutar enfim me resta
mas nem sou espadachim
mosqueteiro talvez
daqueles com raquete nas mãos
desilusão, razão, ilusão
tudo tão distante
pareço um infante

E me escorre a garganta
meu mel verdadeiro
tiro certeiro, colméia
favos de sol, luz
condiz, conduz, hindus
sábios sois mestres orientais
quero mais saber
me dê a fórmula
de toda essa besteira
que me deixa petrificado
mudo, sério e calado.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Annali por Caique Oliveira

(pseudônimo feminino de Caique Oliveira)
Annali Guedes Mendes nasceu ontem e já deixou seu recado.


Mulher sofrida pelas marcas do tempo, pelos amores vividos, pelas desilusões amorosas, pelo frio dos dias de solidão, pelas rugas de expressão.
Mulher batalhadora, sonhadora, mas um tanto quanto amarga, afinal já teve tanto desgosto nessa vida e em outras... Mas ela busca uma chance de ser feliz novamente, embora acredite ser impossível. O porque de tanto sofrimento? Nascida em 22/06/2010 às 12h50, é do signo de câncer com ascendente em Libra. Veja o que o mapa astrológico de Annali revela: "Um idealismo excessivo em suas relações mais íntimas pode ser fonte de constantes mágoas, Annali. Libra é um ascendente que sugere uma pessoa que idealiza demais tudo, e que se choca quando vê que a realidade é um bocadinho diferente. É preciso aprender a lidar com o mundo e com as pessoas como elas são: imperfeitas."* E Annali é extremamente perfeccionista, embora seja um pouco desorganizada com a vida. Com a casa não, esta ela mantém sempre impecável, "um brinco".
Fato é que Annali precisa de ajuda. Afinal, ninguém pode perder as esperanças antes de lutar até atingir o objetivo. Ou seja... Mas Annali está sem forças, culpa dos homens que a sugaram durante toda uma vida, ou duas, ou mais. Homens imaturos, impuros ou simplesmente incapazes de viver. Culpa das amigas, que a apunhalaram. Culpa dos amigos, que a comeram e se foram. Culpa dela mesmo que acreditou em tudo e em todos. Culpa da desculpa esfarrapada. Mas ela vai sair dessa, porque sua esperança é maior, só que Annali ainda não sabe.
Eu gosto de Annali, minha nova amiga que embora conheci a tão pouco tempo (sim, ela nasceu dia 22/06/2010 em BH/MG com uma experiência de milênios em países como Itália, Grécia, Marrocos e Egito Antigo) parece que já sei de toda sua tragetória. Seu objetivo? Não esconder nada, ela quer vomitar todos os seus desgostos para um dia ter o ventre e as ancas puras novamente, para poder voltar a voar com asas limpas e coração, só isso.

* Mapa astral de Annali, fonte: www.personare.com.br
Veja abaixo o primeiro desabafo de Annali e se puder, comente.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Você me usou

Você me usou
abusou meu corpo feito puta
e não, me escuta
deixa eu te dizer
se quer sofrer, sofra já
mas meu vestido você não tira mais
nem meus dias de paz

Você me abusou
dizer que me amava tanto
agora vê meu pranto
solidão faz sofrer, volta já
que meus sentidos você não tira rapaz
em minhas ancas tu não tocas mais

Você me sufocou
me jogar na sua cama assim
agora dizer que tens outra
esgoto é o meu viver, morra já
que minha carne você não cheira, capaz
nem em meus meios você penetra mais

Você me apaixonou
me disse "quero casar contigo"
agora me bate e diz "eu não ligo"
você me usou feito chocadeira
abusou de uma vida inteira
deixe minha paz estorvo
não sou mulher de voltar atrás,
de novo.

Assinado: Annali Guedes Mendes.

Eu tento

Eu tento
me contento
com tão pouco
depois lamento
invento
me encrenco
e assim vou vivendo
lembrando
esquecendo
fazendo
sofrendo
as vezes lendo
bom senso
falta total de senso
alternando
entre o certo e o errado
acertando o erro
eu choro
mentira, nem lembro
fato é que mudo
mas falo
que agora vai passar o pranto
pra encher esse prato
de sorriso
eterno

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Imagine

E se o crime não compensa
imagine a paz
se a morte não consola
imagine a luz

Imagine o quê?
Imagem não é crime
Imagine se compensa
Imagine você
Imagem não se reprime
Imagem se pensa

E se o cravo não comenta
imagine a rosa
se a rocha não levita
imagine a pluma

E se não vê sentido nisso
É porque não tem
E tem sentido isso
Imaginem.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Pedregulhos luminosos
saltam de minha derme
como chuva reluzente
de suor sem deixar a pele
suar
de tanto querer bem
o sol da primavera surgiu
mas a janela não
deixa durar o frio
desse nosso verão
aquecer meu sonho
de letra, música e pão
viver a leveza de ser pagão
porque nesse mundo há
um lugar só pra sonhar
que diz tudo baixinho
mas sempre sorrindo
amar

terça-feira, 8 de junho de 2010

Proteção

Se o frio aumentou
aquece e só
puxa o cobertor
ou ponha um paletó
proteção para dias estranhos
são pedaços de fio
e se bateu aquele frio
pegue um cobertor de lã

O que não pode é ficar encolhido
toda manhã acordar
com os dedos ressequidos
e uma sensação de mal estar

luz é pra iluminar
aprisionada serve pra nada
é uma batalha diária
que no início cansa
depois pode até viciar

Tem que ter punhos de aço
e lutar contra seu próprio ser
mas vale a pena o resultado
dá aquele tempero que falta no viver

Se precisar de ajuda vai encontrar
saberá quem, saberá quando
em que pode confiar
já foi dada a largada
o futuro está próximo
e quando pensar em fraquejar
lembre-se da luz
vista-se de sol
e respire
Isso basta.

Vampiros

Eu quero chupar o sangue
dessa vida boa
já que não tenho tudo
pego de outra pessoa

meu espelho reflete
o que eu não sou
mas quando te vejo
sinto até calor

e quero levar comigo
um pedacinho seu
mas não quero que se apagues
pelo amor de Deus

só quero um pouquinho
do que sobra em ti
pois eu não tenho nada
só migalhas e pó
já você é feliz
veja só!

Eu quero ter sua beleza
seu encanto e clareza
por isso abro a boca
miro a presa

mas não me condene
sou fraco, sem defesa
e tudo o que tenho
é que roubei de alguém indefesa
mas não me denuncie
só me perdoe por este crime.

Ass.: Vampiro das sombras.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Confia

E a luz do sol
faz das palavras um silêncio
sobre o clarão, o calor
o tempo, a dor
incerteza das idéias
mas a confiança no destino
evapora, extermina o soluço
o soluçar
o que vier, e virá.

Pode vir
confia!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

À medida que...

À medida que a gente cresce
a mente se abre
e a gente esquece de castigar

À medida que aprimoramos a prece
a mão se esquece
de bater em quem pode chorar

À medida que o choro desce
o coração padece
e fechar os olhos é melhor que cegar

À medida que o dia amanhece
vai passando a febre
e o sentimento perdoa cada lágrima

Testar

(escrito em 2004')

A vida testa meu senso
de humor, de dor, de amor
a vida atesta meu tempo
pra rir, chorar, pro rubor
a vida mescla e o vento
traz a brisa
traz o mar
só falta o amor
chegou
mas não quero chegar
que agora não
pois preciso voar
com asas livres sobre o vulcão
e não quero deixar
machucar um coração
por isso vou derramar
um tubo de cola no me peito então
pra ele só bater o que precisa
mais que isso não
não precisa preocupar
me seduza, me mostre suas garras
isso eu gosto, me alimenta, me aumenta
me sopre com seu ar
que me infla, me expande, me completa
agora pode parar
porque se não vai dar em merda

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Doce

Doce do amargo da língua
respiro o doce olhar
feito algodão doce
que é açucar.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Bis

chocolate por fora
biscoito
recheio
biscoito
recheio
biscoito
recheio
e uma saudade no meio
biscoito
recheio
biscoito
recheio
biscoito
recheio
chocolate por fora (bis)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Erro

(música)

O erro é meu
eu que errei
o erro é meu
eu que aceitei
seguir por aí
pensando ser rei
eu aceitei
agora tudo passa
tudo bem?
agora meio sem graça
vou além
de onde pensei que iria
ficar sem graça de passar

Mas tudo bem
nem tudo está perdido
eu vi a tempo
dá pra ser corrigido
mesmo que o tempo demore
a começar a trabalhar
mesmo que o relógio rode
no mesmo lugar
vou amém
preciso sair dessa casca fria
olhar pro alto em alegria
Pegar as mãos vazias
e começar a plantar
com consciência

Brincadeira

Pensei ser um anjo
só porque tenho asas
mas isso todo mundo tem
só que ficam bem guardadas
sob a inveja e o orgulho
elas ficam alojadas
em meio a poeira e entulho
asas mal cuidadas
eu as exibo e orgulho
porque as minhas são tratadas
com vento, mercúrio
e histórias mal contadas.

Nunca se entregue
se feche
se tranque

Nunca se arranque
se puxe
se dê

Nunca presencie
se sinta
se cegue

Nunca admita
reflita
compita

Nunca se mostre
se esconda
se encolha

Nunca dê valor
se olhe
inoje

Nunca sê você
sê outro
sê bicho
sê solto
sê vício
nunca desespere
crê
nunca ostente

tire a máscara

Desejo racional

Entre uma cerveja
e um sentimento
me vem você

Entre um drink
e um cheiro
toma você
meu copo
meu corpo
meu jeito de falar
eu só faço aceitar
calado te peço segredo
pra que dure mais tempo
pra que eu durma mais cedo
desejo

Entre um ver
e um querer
samba você
meu juízo
meu martírio
meu peito a falar
coração só faz bater
parado vivo o desejo
pra que seja intenso
pra que que seja real
acordo

Entre um fim
e um início
lembra você
meu resquício
meu vestígio
meus versos de sonhar
solidão só faz pensar
se quero vivo
ou melhor morto
pra que seja racional
socorro!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Vai dá

(sim, fiz meu primeiro samba, eu acho)

Vai dá
uma colher de chá
pro suco de maracujá
que tá esquentando na janela
vai lá ver quem é
e me trás café
com adoçante bom e de primeira

trás logo trás
um pouquinho mais
de leite condensado
pra jogar no bolo de fubá
trás, põe um pouquinho mais
de jabuticaba e jazz
pra batucar ao som da bebedeira

que eu já to por dentro
dessa festa, o resto é besteira
que a gente é forte e luta
vence e torce, esquece a saidera
e quando tudo dá errado
culpa tudo, tá furado
e deito na cama puto
viro pro lado e fico mudo
mas feliz por ter vivido isso tudo

Desculpe

É pau, é pedra
é o fim do caminho...

(bom, isso já existe, deixa pra lá.)

O que não pode
é mudar
achar que pode
e não poder
se desacreditar
isso não pode
não dá poder
não dá.

O que chove
é lugar
achar que outro
vai acreditar
te salvar
isso comove
não move
não dá.

O que comove
é falso olhar
dizer que quer
e mal querer
apunhalar
isso entristece
não desce
não dá.

O que role
é virar
achar que ouro
vai sustentar
me tentar
isso dói
não destrói
mas dá...

...o que?
é?
acha?
vai?
tenta.
isso.
não.
dá.

Biribandogoletá

Quem sabe o que é:
ser
estar
fazer
comer
gostar
prazer
ficar
olhar
crescer?
São verbos
são versos
são vergonhas
do próprio ser
transmitido
projetado
enjaulado
fuzilado
em você

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Eu sou dependente

Eu sou dependente
dessa droga lícita
que corroi os dentes
que saliva a boca
encharca a roupa
que deixa demente

eu sou dependente
de um sorriso branco
um olhar atento
um carinho santo
um farol piscando
ou uma lanterna
com calor e mente

eu sou dependente
de uma resposta
de um conselho
de um tapa, um beijo
ou de nada disso
só ficar comigo me basta
mentira porca
e mal paga

Eu sou dependente
e não há remédio
não há cura
que me alimente

Pois vem de dentro
dos meus calafrios
e isso só resolvo
aqui dentro

comigo, que sou
dependente.

domingo, 16 de maio de 2010

Simples confusão

Simples assim
um corpo, um gosto
simples pra mim
um copo, almoço
simples
um

solitário um
o sonho de um
solitário hunnn!
o sonho de hunnnnnn!
solitário
algum

E você entende
porque é tudo igual
e compreende
porque é quase igual
e sente
porque é assim?

E vai ser hoje
mas acabou o dia
amanhã tem mais
e trás uma bacia
que já não tenho paz

E vejo as cores
sorri também
mas sei que hoje
não posso ir além
a cabeça confunde
mas o sonho jamais.

O que fazer se sou razão
no corpo de animais?

domingo, 25 de abril de 2010

Eu gosto do simples

Eu gosto do simples
do doce
do expontâneo
do natural
do ridículo
do tosco
do bobo
do meu rosto feliz em frente a um espelho.

Eu gosto do vermelho
que tem no olho do coelho
no nariz do cachorro
no sapato do lobo mal

Eu gosto de ir
de rir até passar mal
eu gosto de ficar
e me olhar no varal
amassado me sorrir
e sacudir
ver o rosto reagir
enrugar a testa de felicidade
e dormir com um sorriso bobo
de pinguim de geladeira nova
sentir as costas se levantarem
e as bochechas falarem
eu gosto disso

Eu gosto de bicho
longe de mim
mentira, gosto perto sim
eu falo besteira
e me arrependo
mas não aprendo
e arrependo
vida boa é a que se está vivendo
com sono, com soro, com água
que na sede até mata
mas matar só se for assim
eu gosto mais de mim
comendo um bocado de "smiles"
que descem do meu cérebro
quando sacudo a cabeça
de olhos fechados
bem assim.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Nada

Tem hora
pra tudo
pra nada
tem tempos
que nada
pra tudo tem
hora marcada
pra tudo
tem hora
marcada
tem nada
pra fazer
mas hora marcada
tem
tem nada
pra pensar
mas hora marcada
tem
tem tempos
que não tem nada
tem tempos
que não tem hora
e o nada
comemora
o aumento
de suas horas
em nada
sem tempo
pro tudo
ou nada

Sinceridade

* Vou começar a postar coisas antigas. Esse foi escrito em 03/03/2008.

A sinceridade é tão apreciada quanto a carne

Eu quero comer um boi inteiro

Apreciar o adocicado do vermelho temperado

Ver o sangue escorrer goela abaixo

A carne sangra

A sinceridade também pode

Mesmo assim eu quero uma bisteca

Não tenho medo de cobra, nem punhal

Eu quero picanha, fraldinha, coisa e tal

Tira o couro, corta a parte, frita ou assa

E me trás um prato bem farto

Que já to farto de esperar

Eu quero carne, quero boi, quero búfalo

E hoje tem, eu sei, hoje tem

Pernil pro jantar, mocotó e rabada pra acompanhar

Tem miúdo de porco, galopé e costela

Eu sei que de tanto comer posso envermelhar

E ferida aberta é difícil cicatrizar

Mas cicatriza e a gente aprende a não mais se fartar

E a gente aprende a comer sem se intoxicar

Aprende a ver, ouvir e analisar

Ao invés de engolir sem ao menos tocar, pensar e cheirar

Eu que não sou vegetariano quero agora

Me trás um prato, uma tigela, uma bacia

Que hoje eu quero me fartar

E se sangrar é porque era pra ser assim

Nem todo dia dá pra comer só pudim.


quarta-feira, 31 de março de 2010

Calma meu amor!

(na verdade é uma música, não funciona tão bem como poema seco, mas...)

Amor, acho que tem algo errado
Você não me procura
Você não me leva a loucura
Você nem me liga mais
Preciso achar uma cura
Pra falta que seu beijo faz

Amor, acho que tem algo errado
Você olha pra toda mulher na rua
E ela nem precisa estar semi nua
Você olha pra peludas e animais
Me diz o que me ajuda
Eu até imagino que não me queira mais

Eu já te dei tanto sangue
Já guardei suas menetes de play dois
Já até separei pra você o feijão do arroz, num mixido

Eu já chorei suas dores
Já costurei pra Dolores, sua amiga prostituta
Já aguentei tanto "filho da puta" que você me chamou

Lembre-se que eu sou só sua
Te amo mais que ninguém
E se tiver me traindo, PELO AMOR DE DEUS, me esconda bem.

domingo, 28 de março de 2010

cálculo

E se tem um problema
é porque merece
Toma, é teu!

Se perdeu, não fui eu
E esclarece
escureceu

Há tantas formas de explicar a dor
e de sofrer também
Há muitas formas de imitar o amor
e se sofrer faz bem
Chama um matemático pra ajudar
a se entupir de teorias
Afinal, os problemas do coração
não se resolvem como um cálculo matemático
mas sim como um cálculo renal.

quinta-feira, 25 de março de 2010

tinta fresca seca velha

Pintura seca na parede
escorre água, pinta o chão
dá sede, dá nojo, dá nada
que se reviram, rebolam
embolam a cor derramada
num pingo de nuvem
colorido de vento
o chão acalento
respingado de suor
de amor
de pão-de-ló
ou lembranças só
a sós, a voz
tudo relembra o passado
o pensado, o feito, o achado
mesmo que não tenha nada
sobrado
o bom é lembrar
sorrir
e olhar pra quem tá ao lado
mesmo que não esteja
um dia estará
e novamente a gota vai escorrer
molhar, colorir o ser

Virtual

Eu ouvi a voz
das palavras de vidro
aprisionadas
pudera eu abraçá-las

Depender da luz para ver
do sol pra aquecer
me faz sentir papel
do lado, brasa

Mas penso em fazer
um escurecer quente
entre dentes e palavras

E sem depender de nada, só
olhos fechados e a madrugada
ponto, basta...sobra.

Sonha(o)

Eu vi um pássaro cantando uma música do Elvis
acordei, levantei da cama assustado
lembrei do herói alado que o carregava
e do tigre de bengala que conversava comigo
tento dormir até hoje e não mais consigo

O ouro

De tolo o ouro tem a cor
dourada é a cor da burrice
que atrai, afasta e atinge

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Microcontos

Andava pela rua. Vi um cachorro. Sorri. Ele não.

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Ondas se formaram no mar arredio. O surfista gostou. O tubarão também.

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Não chovia tanto. Mas molhava.

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Saí cedo pro trabalho. Cheguei tarde em casa. Adormeci no sofá da sala.

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Ela chegou com um ar provocante. Suspirei. Pirei.

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Ela gostava de ouvir Roberto Carlos. Outro cabeludo apareceu. Mas sentiu saudades.

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O cliente pediu o dinheiro de volta. Não dei. O Procon também não.

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O professor explicava a matéria. Ninguém ouvia. Chorou.

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Pílulas do dia seguinte estavam sobre a mesa. Sobre o mês. Sobre o berço.

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A lesma andava pelas folhas da salada sobre a mesa. O saleiro apareceu. Ela não.

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Toda a gente vestia frangalhos. Ficaram nus. Evaporaram.

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Amelie conheceu alguém. Contava casos. Casou-se.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Mudanças (sente-e-morra)

Mover uma geladeira
Carregar um fogão
Mudança não
Dá torcicolo
Falta disposição
Vamos deixar tudo como está
Aquele pedaço de pão no chão
uma formiga leva
e tudo se resolve
O universo conspira
e a vida está traçada
Vamos sentar num toco
olhar o mar grandão
e esperar um meteorito passar
Ou Jesus voltar
ou Buda, ou a onda
Vamos deixar o pingo
a gota cair, olhar e não desviar
Os olhos são para olhar
Mas vamos tapar
porque a preguiça é grande
E tempo não há
Pra quem espera o tempo passar
pra passar o tempo
Passando.

Pra que mudar?
Deixe a geladeira lá
vamos deixar

Pra que mudar?
Deixe o iogurte lá
Vai bolorar e evaporar

Pra que mudar?
Se você não tem sangue
E ao pó retornará.

Pra que continuar se enganando?
Pra não ter que mudar?
Morra.