quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Para Hermes e Renato

Que dizer do humor?
que a cada dia toma meu rubor
toma meu tempo por favor
quero mais gargalhar
e menos dor

Liga a TV meu amor
vai começar minha alegria
minhas rugas agradecem noite e dia
eu me sinto bem, zen
menos ninguém

E de rir a risada perfeita
gargalhar a gargalhada eleita
de tanto ver o que me interessa
eu cresço no meio dessa merda
sem sentir o cheiro do que resta

A madeira podre rejuvenesce
pela curva ascendente
pelo mostrar dos dentes
que me brota na face
desses pais que só me atiçam
a criar bobagens
porque num mundo sério e rouco
prefiro a sanidade do louco

sábado, 25 de outubro de 2008

Sala de espera

Quando se espera
tem que aguardar
tem que se guardar a dor
de esperar

A espera da resposta
pode paralisar
um fígado, um pâncreas, um rim
pelos dez segundos
mais longos da história

Há quem consiga respirar
nessas horas
outros sufocam um amargo
gosto de veneno adormecido
no meio da garganta
que nada passa
sequer existe

A espera é triste
à espera da alegria
que espera chegar
o adjetivo aguardado
que faz brotar a curva perfeita
a iluminar todos os sentidos

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Música: Som + a

No fundo há um lugar
tão lindo de se ver
de se ficar, cantar o sol
que nasce no alvorecer
dos pássaros e no lençol
eu a me espreguiçar do sono
logo acordar risonho
e poder curtir o ar
a navegar pelo céu amante
de criaturas falantes
que a cada suspiro crescem
e parecem lapidar o sonho
que ali aparece sólido
tão real, natural e sóbrio
e o assobio parece ecoar
enquanto vejo todos ali
cantando o bem
tocando o bom
alimentando minha alma
com migalhas de saudade
e som

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Vida pós semi

O sangue brotava
coisa nojenta
tosca
suja
porca
e se torcia a lança
em seu peito
em seu leito
em sua ilusão
despedaçada
dos sonhos
maltratados
mal cuidados
mal sonhados
mal dados
deu sorte
de nada
acordar no alto
querer voltar
voar
ventilar o corpo
não pode
é morte
morrida
matada
sentida
e agora
só alegria
festa
clarão
do peso da Terra
da escuridão da noite
só a lembrança
agora é sol
luz
lumiar
iluminado
há de ficar
estou aqui
a trabalhar
mas às vezes não
sou homem
imperfeito
teimoso
pidão
chorão
meu corpo pesa
sou limitado
não atravesso o chão
não vôo
não me teletransporto
que querer então?
sou humano
homem de carne
pecador
pacaminoso
cristão
ou não
de nada
Dánate
obrigado
pela jornada
que pesa
mas levita
e percebo
que passa
logo passa
sou alado
e vou
logo
flutuar

Adivinha

eu vinha andando
e adivinha!
há de vir
se há!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Como se soubesse

E como saber
o que dizer
na hora certa
acertar a porta aberta
e entrar

E como saber
a hora de ouvir
logo desperta a sede
de acordar a boca
e falar

E como perder
o medo de ser
e viver sem medo
de errar na esquina
e machucar

E como proceder
numa entrevista de emprego
cheio de anseios e medos
saber que pode ser
ou fracassar

E como enrigecer
a curva da cintura
em meio a tanta fritura
não comer coxinha
vai adiantar

E como sorrir
mesmo sujo de lama
sem água e sabão
pular na cachoeira molhada
se libertar

E como ler
o que escrevo
sem querer apagar ou complementar
deixar o mundo ler
e relaxar

sábado, 4 de outubro de 2008

2m2

dois metros quadrados
para sentir calor
tem gente passando
e um ventilador
mas não tem jeito
a água pinga da testa
e já molha a cueca
a blusa cola nas costas
e a calça sonha virar short
que sorte que o dia já termina
daqui a cinco horas acabou
vou embora e pronto
tiro a roupa
não ponho outra
abro a torneira fria
gelada
arrependo e ponho no morno
que queima feito fogo
me estresso, não nego
me queimo e suo de novo
sonho com o calor passar
mas que venha pouco frio
porque na verdade gosto de suar

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Calor

Puta merda
tá calor!
esquenta minha auréola
sufoca meu espirro
adianta meu rubor