domingo, 25 de abril de 2010
Eu gosto do simples
do doce
do expontâneo
do natural
do ridículo
do tosco
do bobo
do meu rosto feliz em frente a um espelho.
Eu gosto do vermelho
que tem no olho do coelho
no nariz do cachorro
no sapato do lobo mal
Eu gosto de ir
de rir até passar mal
eu gosto de ficar
e me olhar no varal
amassado me sorrir
e sacudir
ver o rosto reagir
enrugar a testa de felicidade
e dormir com um sorriso bobo
de pinguim de geladeira nova
sentir as costas se levantarem
e as bochechas falarem
eu gosto disso
Eu gosto de bicho
longe de mim
mentira, gosto perto sim
eu falo besteira
e me arrependo
mas não aprendo
e arrependo
vida boa é a que se está vivendo
com sono, com soro, com água
que na sede até mata
mas matar só se for assim
eu gosto mais de mim
comendo um bocado de "smiles"
que descem do meu cérebro
quando sacudo a cabeça
de olhos fechados
bem assim.
sexta-feira, 2 de abril de 2010
Nada
pra tudo
pra nada
tem tempos
que nada
pra tudo tem
hora marcada
pra tudo
tem hora
marcada
tem nada
pra fazer
mas hora marcada
tem
tem nada
pra pensar
mas hora marcada
tem
tem tempos
que não tem nada
tem tempos
que não tem hora
e o nada
comemora
o aumento
de suas horas
em nada
sem tempo
pro tudo
ou nada
Sinceridade
A sinceridade é tão apreciada quanto a carne
Eu quero comer um boi inteiro
Apreciar o adocicado do vermelho temperado
Ver o sangue escorrer goela abaixo
A carne sangra
A sinceridade também pode
Mesmo assim eu quero uma bisteca
Não tenho medo de cobra, nem punhal
Eu quero picanha, fraldinha, coisa e tal
Tira o couro, corta a parte, frita ou assa
E me trás um prato bem farto
Que já to farto de esperar
Eu quero carne, quero boi, quero búfalo
E hoje tem, eu sei, hoje tem
Pernil pro jantar, mocotó e rabada pra acompanhar
Tem miúdo de porco, galopé e costela
Eu sei que de tanto comer posso envermelhar
E ferida aberta é difícil cicatrizar
Mas cicatriza e a gente aprende a não mais se fartar
E a gente aprende a comer sem se intoxicar
Aprende a ver, ouvir e analisar
Ao invés de engolir sem ao menos tocar, pensar e cheirar
Eu que não sou vegetariano quero agora
Me trás um prato, uma tigela, uma bacia
Que hoje eu quero me fartar
E se sangrar é porque era pra ser assim
Nem todo dia dá pra comer só pudim.